Porque
Pinha Fixa?
Esta foi a pergunta que o Orley
me fez durante o brevet Randonnée 200 km de Eldorado, RS
Certa vez perguntaram a um
montanhista:
Porque subir determinada
montanha?
Sem pensar ele respondeu:
Porque ela está lá!
A minha resposta não vai ser
muito diferente disto. Porque existe bicicleta com pinha fixa, mas não é só
isto.
Foi assim:
Março de 2006- vendi uma velha
bicicleta Master, speed de cromoly de origem Argentina, para o cubano Luis
Nunes. O que chamou a atenção foi que ele quis a bicicleta sem câmbios, mas com
uma roda livre 20 dentes. Uma verdadeira single speed. Algum tempo depois o
Luis, que é adepto do ciclismo calmo, me contou bem feliz que havia conseguido
um cubo traseiro para pinha fixa. O Luis influenciou outros ciclistas e
alguns experimentaram e gostaram da idéia, por exemplo o Fabio Lazzarotto e o
Poti.
Luis Nunes: blog bicibrasil- http://bicibrasil.blogspot.com.br/
Janeiro de 2007- encontrei o Kayo
Oliveira, que também pedalava com pinha fixa. Ele me disse que os verdadeiros
heróis eram os ciclistas que concluíam o Paris Brest Paris utilizando bicicleta
com pinha fixa. Naquele dia eu pensei: se é difícil, tem que haver um porque,
algum dia vou experimentar.
Paris Brest Paris 2007- estava
pedalando no retorno de Brest, no segundo dia do brevet. Pedalo girando muito
os pedais e com isto fazendo pouca força e economizando energia. Geralmente nos
brevets longos pedalo próximo a 100 rotações por minuto. Estava a algum tempo
atrás de um ciclista canadense e notei que estava pedalando exatamente no mesmo
giro que ele e seus companheiros mais a frente. Pensei: se estes
ciclistas mais experientes pedalam neste ritmo deve significar que estou
pedalando de forma correta. Mas algum tempo presto melhor a atenção na
bicicleta no canadense e percebo que ele está utilizando uma pinha fixa. Bem,
se eu estou pedalando no mesmo ritmo de um ciclista com pinha fixa é porque não
deve ser tão difícil assim.
Esta chegando o final de 2008 -
fico namorando uma speed usada com quadro tamanho 60. Encomendei um cubo
traseiro para pinha fixa. Levei mais de um mês para montar a bicicleta e mais
duas semanas fazendo testes e pedaladas curtas. Ao mesmo tempo entrei em
contato com outros ciclista e fomos trocando informações. Surgiu um
pequeno grupo de “Pinhafixionados”. Alguns ainda nem tinham a bici com pinha
fixa, mas se apressaram em montar uma também.
A idéia de pedalar um brevet
randonnée seria inevitável, mas combinamos de tentar pedalar juntos. O próximo
brevet de 200 seria o da Ninki e foi lá que encontrei o Orley.
Porque pedalar com pinha fixa?
Também por curiosidade, mas
principalmente para aprender. O minha real intenção foi aprender e viver a
experiência de ser um ciclista pinha fixa. Já tinha experiência semelhante
com o brevet de 200 km pedalado com uma bicicleta Monareta.
Também não podia perder a
oportunidade de estar no primeiro grupo a pedalar um brevet, com o uso de
bicicleta pinha fixa.
Preparação
Não tive tempo de pedalar longas
distancias antes do brevet, mas pedalava diariamente com a bicicleta.
No inicio pretendia deixar a
bicicleta o mais limpa possível, mas por segurança resolvi colocar o freio
traseiro. Para o brevet de 200 outros itens foram necessários, bolsa de selim,
suporte de garrafa, farol, pisca, etc
Depois de testes definitivamente
resolvi usar uma relação 42/16. Foi uma boa escolha e para definir usei a experiência
da monareta, 52/16 com aro 20. Nas semanas anteriores comecei a brincar cada
vez mais com a pinha fixa, entre as brincadeiras estavam:
- vencer ladeiras curtas para
subir de descer;
- descer ladeira sem os pés no
pedal;
- pedalar sem usar freios;
- atingir a maior velocidade
possível, com os pés no pedal é claro.
Conhecia o percurso da brevet, e,
alguns dias antes, havia passado de carro na estrada tentando definir onde
teríamos as maiores dificuldades.
A Largada
Aconteceu depois das 6 horas e
estava pensando em seguir com os primeiros ciclistas por algum tempo. Era
possível, mas começou a ficar difícil de buscar os primeiros ciclistas após a
disparada. Seria necessário manter um giro muito alto e não estava muito com
vontade de fazer isto. Também havíamos combinado de tentar andar juntos e então
esperei os demais pinhafixionados.
Sem sol e com percurso em
planície estava uma maravilha o brevet. Antes de Charqueadas, resolvi brincar,
e conseguir chegar a 57 km/h , isto representa um giro de 170 aproximadamente.
O ruim foi furar o pneu na ponte
maldita, aquela próximo ao Postaço de Charqueadas. A parada foi uma diversão.
Cada ciclista que passava parava para assistir e ficava conversando. Demorei
para encontrar o fio de aço que causou o furo e perdemos um bom tempo, mas
pressa porque? Aquela altura o pessoal da “Turma do Fundão” já estava nos
alcançando, mas acho que fomos contagiado por um espírito de ciclismo calmo alla Luis
Nunes. ( a turma do Fundão anda enfraquecida, sem alguns dos mais assíduos
participantes. Cadê o Lazary?).
Seguimos até o PC-1 e mais uma
parada e uma dezenas de fotos com o comentarista, jornalista, repórter
fotográfico, e também pinhafixionado, Poti.
O sol apareceu e trouxe o calor.
Ainda bem que algum ciclista leva bloqueador solar.
O primeiro possível obstáculo
seria a subida da ponte sobre o Guaíba, mas foi até possível subir pedalando
sentado.
Próximo a entrada para Santo
Amaro e chegamos em algumas descidas mais inclinadas. Novamente brinquei e
desci algumas sem os pés no pedal.
Já chegando ao PPP ( Pesque e
Pague Panorama) encontramos as maiores subidas e descidas. Na subida
pedalávamos em pé. Na descida girando e segurando levemente contra os
pedais e isto não foi cansativo. Foi mais fácil do que o esperado manter 30
km/h na descida, sem cansar e sem frear.
Uma parada no PC de retorno, mas
uma no PPP e seguimos sempre girando para o momento mais quente do dia.
Chegamos no ultimo PC com muita
sede e calor, e ficamos bastante tempo parado. Muita água, hidrotonico, picolé
e seguimos para o ultimo percurso das longas retas.
Muitas vezes pedalávamos em pé,
mas foi para aliviar o peso sobre o banco. Neste detalhe eu comecei a sentir
pois estava utilizando um selim Brooks pela primeira vez em um brevet. Faltou
um pouco de regulagem no ajuste da tensão do couro e isto me fez andar mais
rápido nos últimos quilômetros.
Também senti um pouco a diferença
da bicicleta, com guidão mais baixo, o que deu um pouco de dor no pescoço e nas
mãos. Foi bom pára lembrar o quanto é importante estar com uma bicicleta bem
ajustada.
Por mais que eu escreva não vou
conseguir descrever a sensação de pedalar com uma bicicleta pinha fixa. SE você
quer descobrir todas as sensações somente pedalando.
São três
situações diferentes:
Na subida: todo depende muito da
inclinação, mas se pedala mais lento, em pé. Se Faz mais força, vai
mais lento, mas se cansa menos.
No Plano: é uma delicia. Você
gira sempre e esquece que esta de pinha fixa, mas representa que a bicicleta
está empurrando os teus pés para pedalar ainda mais.
Na descida: também depende muito
da inclinação. A experiência te dá uma técnica de descer, sem frear, e sem
gastar muita energia para manter uma velocidade constante sustentável.
Com pinha fixa se aprende a girar
mais e a prestar mais a atenção no relevo.
Com pinha fixa se aprende a ser
mais constante e menos sprinter. Com uma bicicleta com cambio temos algumas
facilidades a mais, mas muitas vezes não sabemos usar.
Somente um brevet de 200 e
algumas pedaladas mais curtas ainda é muito pouco para conseguir definir com
mais precisão este tipo de bicicleta.
Resumindo uma pinha fixa: o
cúmulo da simplicidade e eficiência mecânica.
Completamos o brevet de 200 km em
quase 10 horas
Tempo total pedalado: 7h 54
minutos
Média pedalada=25, 4 km/h
Máxima= 57 km/h
Porque pedalar utilizando
suspensório, bermuda de tergal, camisa social?
O Poti escreveu o porque no seu
blog:
`Ele e Matzembacher
percorreram 200 quilômetros em 10h. Um detalhe: em homenagem
ao caráter histórico das fixas, os dois pedalaram em trajes semelhantes aos
utilizados por ciclistas do início do Século 20`
Portanto: Não é roupa de alemão e
nem para homenagear os alemães. É uma homenagem aos antigos ciclistas, que
usavam bicicletas com pinha fixa a muito tempo, quando ainda nem existia
asfalto.
É para fazer um contraste das
bicicletas tão modernas, mas ao mesmo tempo com uma origem antiga;
É para mostrar o quanto é simples
pedalar;
É para diferenciar o pelotão dos
pinhafixionados que deve ficar ainda mais completo em breve;
É para aumentar ainda mais a diversão
de pedalar um brevet audax/randonnée.
O Próximo brevet encontro dos
Pinhafixionados?
Deverá ser no dia 29 de março em
Criciúma.
Abraços Pinhafixados! Luiz M.
Faccin