terça-feira, 15 de abril de 2014

Relato Brevet 200km de fixa Eldorado 2010.


Porque Pinha Fixa?
Esta foi a pergunta que o Orley me fez durante o brevet Randonnée 200 km de Eldorado, RS
Certa vez perguntaram a um montanhista:
Porque subir determinada montanha?
Sem pensar ele respondeu:
Porque ela está lá!
A minha resposta não vai ser muito diferente disto. Porque existe bicicleta com pinha fixa, mas não é só isto.


Foi assim:
Março de 2006- vendi uma velha bicicleta Master, speed de cromoly de origem Argentina, para o cubano Luis Nunes. O que chamou a atenção foi que ele quis a bicicleta sem câmbios, mas com uma roda livre 20 dentes. Uma verdadeira single speed. Algum tempo depois o Luis, que é adepto do ciclismo calmo, me contou bem feliz que havia conseguido um cubo traseiro para pinha fixa. O Luis influenciou outros ciclistas e alguns experimentaram e gostaram da idéia, por exemplo o Fabio Lazzarotto e o Poti.
Luis Nunes: blog bicibrasil- http://bicibrasil.blogspot.com.br/
Janeiro de 2007- encontrei o Kayo Oliveira, que também pedalava com pinha fixa. Ele me disse que os verdadeiros heróis eram os ciclistas que concluíam o Paris Brest Paris utilizando bicicleta com pinha fixa. Naquele dia eu pensei: se é difícil, tem que haver um porque, algum dia vou experimentar.
Paris Brest Paris 2007- estava pedalando no retorno de Brest, no segundo dia do brevet. Pedalo girando muito os pedais e com isto fazendo pouca força e economizando energia. Geralmente nos brevets longos pedalo próximo a 100 rotações por minuto. Estava a algum tempo atrás de um ciclista canadense e notei que estava pedalando exatamente no mesmo giro que ele e seus companheiros mais a frente. Pensei: se estes ciclistas mais experientes pedalam neste ritmo deve significar que estou pedalando de forma correta. Mas algum tempo presto melhor a atenção na bicicleta no canadense e percebo que ele está utilizando uma pinha fixa. Bem, se eu estou pedalando no mesmo ritmo de um ciclista com pinha fixa é porque não deve ser tão difícil assim.
Esta chegando o final de 2008 - fico namorando uma speed usada com quadro tamanho 60. Encomendei um cubo traseiro para pinha fixa. Levei mais de um mês para montar a bicicleta e mais duas semanas fazendo testes e pedaladas curtas. Ao mesmo tempo entrei em contato com outros ciclista e fomos trocando informações. Surgiu um pequeno grupo de “Pinhafixionados”. Alguns ainda nem tinham a bici com pinha fixa, mas se apressaram em montar uma também.
A idéia de pedalar um brevet randonnée seria inevitável, mas combinamos de tentar pedalar juntos. O próximo brevet de 200 seria o da Ninki e foi lá que encontrei o Orley.
Porque pedalar com pinha fixa?
Também por curiosidade, mas principalmente para aprender. O minha real intenção foi aprender e viver a experiência de ser um ciclista pinha fixa. Já tinha experiência semelhante com o brevet de 200 km pedalado com uma bicicleta Monareta.
Também não podia perder a oportunidade de estar no primeiro grupo a pedalar um brevet, com o uso de bicicleta pinha fixa.
Preparação
Não tive tempo de pedalar longas distancias antes do brevet, mas pedalava diariamente com a bicicleta.
No inicio pretendia deixar a bicicleta o mais limpa possível, mas por segurança resolvi colocar o freio traseiro. Para o brevet de 200 outros itens foram necessários, bolsa de selim, suporte de garrafa, farol, pisca, etc
Depois de testes definitivamente resolvi usar uma relação 42/16. Foi uma boa escolha e para definir usei a experiência da monareta, 52/16 com aro 20. Nas semanas anteriores comecei a brincar cada vez mais com a pinha fixa, entre as brincadeiras estavam:
- vencer ladeiras curtas para subir de descer;
- descer ladeira sem os pés no pedal;
- pedalar sem usar freios;
- atingir a maior velocidade possível, com os pés no pedal é claro.
Conhecia o percurso da brevet, e, alguns dias antes, havia passado de carro na estrada tentando definir onde teríamos as maiores dificuldades.
A Largada
Aconteceu depois das 6 horas e estava pensando em seguir com os primeiros ciclistas por algum tempo. Era possível, mas começou a ficar difícil de buscar os primeiros ciclistas após a disparada. Seria necessário manter um giro muito alto e não estava muito com vontade de fazer isto. Também havíamos combinado de tentar andar juntos e então esperei os demais pinhafixionados.
Sem sol e com percurso em planície estava uma maravilha o brevet. Antes de Charqueadas, resolvi brincar, e conseguir chegar a 57 km/h , isto representa um giro de 170 aproximadamente.
O ruim foi furar o pneu na ponte maldita, aquela próximo ao Postaço de Charqueadas. A parada foi uma diversão. Cada ciclista que passava parava para assistir e ficava conversando. Demorei para encontrar o fio de aço que causou o furo e perdemos um bom tempo, mas pressa porque? Aquela altura o pessoal da “Turma do Fundão” já estava nos alcançando, mas acho que fomos contagiado por um espírito de ciclismo calmo alla Luis Nunes. ( a turma do Fundão anda enfraquecida, sem alguns dos mais assíduos participantes. Cadê o Lazary?).
Seguimos até o PC-1 e mais uma parada e uma dezenas de fotos com o comentarista, jornalista, repórter fotográfico, e também pinhafixionado, Poti.
O sol apareceu e trouxe o calor. Ainda bem que algum ciclista leva bloqueador solar.
O primeiro possível obstáculo seria a subida da ponte sobre o Guaíba, mas foi até possível subir pedalando sentado.
Próximo a entrada para Santo Amaro e chegamos em algumas descidas mais inclinadas. Novamente brinquei e desci algumas sem os pés no pedal.

Já chegando ao PPP ( Pesque e Pague Panorama) encontramos as maiores subidas e descidas. Na subida pedalávamos em pé. Na descida girando e segurando levemente contra os pedais e isto não foi cansativo. Foi mais fácil do que o esperado manter 30 km/h na descida, sem cansar e sem frear.
Uma parada no PC de retorno, mas uma no PPP e seguimos sempre girando para o momento mais quente do dia.
Chegamos no ultimo PC com muita sede e calor, e ficamos bastante tempo parado. Muita água, hidrotonico, picolé e seguimos para o ultimo percurso das longas retas.
Muitas vezes pedalávamos em pé, mas foi para aliviar o peso sobre o banco. Neste detalhe eu comecei a sentir pois estava utilizando um selim Brooks pela primeira vez em um brevet. Faltou um pouco de regulagem no ajuste da tensão do couro e isto me fez andar mais rápido nos últimos quilômetros.
Também senti um pouco a diferença da bicicleta, com guidão mais baixo, o que deu um pouco de dor no pescoço e nas mãos. Foi bom pára lembrar o quanto é importante estar com uma bicicleta bem ajustada.
Por mais que eu escreva não vou conseguir descrever a sensação de pedalar com uma bicicleta pinha fixa. SE você quer descobrir todas as sensações somente pedalando.
São três situações diferentes:
Na subida: todo depende muito da inclinação, mas se pedala mais lento, em pé. Se Faz mais força, vai mais lento, mas se cansa menos.
No Plano: é uma delicia. Você gira sempre e esquece que esta de pinha fixa, mas representa que a bicicleta está empurrando os teus pés para pedalar ainda mais.
Na descida: também depende muito da inclinação. A experiência te dá uma técnica de descer, sem frear, e sem gastar muita energia para manter uma velocidade constante sustentável.
Com pinha fixa se aprende a girar mais e a prestar mais a atenção no relevo.
Com pinha fixa se aprende a ser mais constante e menos sprinter. Com uma bicicleta com cambio temos algumas facilidades a mais, mas muitas vezes não sabemos usar.
Somente um brevet de 200 e algumas pedaladas mais curtas ainda é muito pouco para conseguir definir com mais precisão este tipo de bicicleta.
Resumindo uma pinha fixa: o cúmulo da simplicidade e eficiência mecânica.
Completamos o brevet de 200 km em quase 10 horas
Tempo total pedalado: 7h 54 minutos
Média pedalada=25, 4 km/h
Máxima= 57 km/h
Porque pedalar utilizando suspensório, bermuda de tergal, camisa social?


O Poti escreveu o porque no seu blog:
`Ele e Matzembacher percorreram 200 quilômetros em 10h. Um detalhe: em homenagem ao caráter histórico das fixas, os dois pedalaram em trajes semelhantes aos utilizados por ciclistas do início do Século 20`

Portanto: Não é roupa de alemão e nem para homenagear os alemães. É uma homenagem aos antigos ciclistas, que usavam bicicletas com pinha fixa a muito tempo, quando ainda nem existia asfalto.
É para fazer um contraste das bicicletas tão modernas, mas ao mesmo tempo com uma origem antiga;
É para mostrar o quanto é simples pedalar;
É para diferenciar o pelotão dos pinhafixionados que deve ficar ainda mais completo em breve;
É para aumentar ainda mais a diversão de pedalar um brevet audax/randonnée.
O Próximo brevet encontro dos Pinhafixionados?

Deverá ser no dia 29 de março em Criciúma.


Abraços Pinhafixados! Luiz M. Faccin